Terça feira, dia 8 de Março de 2022
PAI SEMPRE "MUITO PRESENTE"
Fazedor de "bicos" para sobrevivência, muito pouco ocupado fora de casa, sem competências, o pai, o tempo todo dentro de casa, "atenciou" a primeira maria, até chegar a segunda, num dia; atenciou a segunda até, agora, chegar a terceira que lhe sorria. A infância logo vai, nossa Maria cresce e vai se tornando mulher "quando sai"; novinha, criancinha ainda, mas com todos trejeitos femininos, angelicais. O testemunha, acompanhante, sempre por perto, com as mesmas atenções de um esperto. Quando ia na rua, por algum motivo ou trabalho como "samurai", logo voltava apressado, em cima do rasto, para estar com a "filhinha do papai". Era incrível, inexplicável, como compreender tanta dedicação, como refletir com coerências, o que se via e vivia assistindo tanta paixão.
Os dias se passavam, os meses também; e nesta mesma labuta de cuidados, atenções e prioridades, de alguma forma, todas as outras mulheres da casa dizia "amém". Não precisavam se preocupar; tinham, cada uma, seus afazeres cotidianos, femininos e existenciais para cuidar. E a crinhacinha se tornava gente, cada vez mais; de bebê no colo foi se tornando a menininha que já engatiava no solo; e tudo parecia motivo para vibração familiar por mais uma maria que se fazia gente contumaz. O momento de tudo isto é de alegria, conforto e esperanças, como tudo está a se mostrar; mas o futuro, inexoravelmente é quem fala a última palavra, e, aí, vamos ver no que, tudo isto, por fim, vai dar.
Quarta feira, dia 9 de Março de 2022
MÃE ENCIUMADA, INIMIGA DAS FILHAS
O mundo rodava, fora e dentro de casa; na vida lá fora, e na família "cá dentro". Tudo parecia paz e tristonha felicidade com tanta miséria, desgosto e fragilidades; maria-mãe era o próprio retrato de tudo que acontecia no coração de todos, principalmente de todas. Já não tinha marido, e com as filhas nascendo e substituindo umas às outras, sem marido continuava a ficar, e o tempo a passar, anos após anos e mais sozinha na sua dor silenciosa e decepcionante, ela ficava; subsistia a si própria, encontrando forças para vencer cada dia naquilo que seus pensamentos chamavam de inferno. Sabia que tinha ódios resguardados de tempos antes do Raimundo, e mais ódios dele e de tudo que veio depois dele. Aprendeu a conviver com toda a angústia que lhe prendia e que não sabia como se libertar. Descobriu que reclamando de tudo e de todos aumentava sua amargura, e que o silêncio, o "faz de conta" era a melhor forma de doer menos.
Não era só "o Electra" que machucava, mas sua intuição feminina anunciava em alta voz, naquele coração silencioso e dolorido, que aquele marido, como que, fazia questão de deixá-la à míngua de mínimas atenções, para se deslumbrar no contato e na dedicação inteira para com cada uma das marias que ela mesma paria com suas dores emocionais e físicas. Mas, fazer o que, homens são assim. O pai dela era assim e até demais a ponto de fazê-la incomodada muitas vezes desde que se conheceu por gente; por certo os outros homens são da mesma laia. Nesta viagem de tristeza, por um lado "tinha pena" das meninas; por outro, tinha rancor pela dor que tudo isto produz em sua alma, e, por certo, a dor que ela mesma produziu na alma de sua mãe. A maria-mãe, inimiga das filhas, como sua mãe, com ela, foi.
Quinta feira, dia 10 de Março de 2022
MÃE BICHO QUE DESPREZAVA O PAI
No oculto da sua infância, a maria-mãe relembra com detalhes de amargor, e, inconsciente, suas emoções e sentimentos dão respostas com vigor, o "bicho" que foi sua mãe com ela mesma que lhe trai; mas, porém, mais ainda com o raimundo, aquilo que foi o seu pai. Com suas lembranças do passado, seu passado, sua infância, as comparações chegam e se instalam assim: "Os homens são assim mesmo", as mulheres, por um motivo ou outro, por uma fuga ou outra, não tem como fugir; se casam e "bichos" se tornam, pagando todos os preços de suas dúvidas, medos, fugas e anseios que nunca deixa de lhes aderir.
Dos ódios de todos os dias, o tempo todo, que marcham a sua mente, as mãos, os dedos e a boca de beijos do seu pai raimundo em seu corpo infantil, sempre presentes, tem sido o combustível para a maria-mãe detestar com desconfiança a vida, o dia, a noite, o marido, as filhas e até o Deus que professa, vez por outra, na igreja da vizinhança. Todos os dias é a mesma coisa, os mesmos ódios de si e de tudo ao redor. A vida sempre traiu esta mãe ardida; ela mesma sempre se traiu em sua dor escondida; o pai, o marido e todos os homens iguais por sua vida; e, até as filhas, também vítimas de tudo e todos, têm lhe traído as feridas. "Pobre da minha mãe, viveu e morreu com tudo isto no coração" pensa ela; pobres marias de todos os cantos do mundo, pobres marias em cada geração.
Sexta feira, dia 11 de Março de 2022
NÃO SE LEMBRA SE JÁ AMOU O PAI
Como fica essa "mentizinha" de filha, das marias? Se precisam do "Electra" para serem as gentes que precisam ser, como ficam diante do que a vida, pra elas, gostaria? Como podem se entenderem, se amarem, se empoderarem, se lhes faltam esta memória de um pai que deve ser amado; um homem símbolo dos homens, que deve ser atado ao homem que cada uma encontrará para, em suas vidas, ser admirado e respeitado? Os raimundos estão por aí, sendo pais destruidores destas esperanças femininas; eles estão por aí casando e descasando, traindo e "destraindo", sendo amargos para suas pequeninas. E, num dominó, os raimundos que sofrerão por tudo isto, se tornarão outros raimundos sem nenhuma dó; nem saberão ao certo, que neste baralho consequente, outros raimundos eles serão e produzirão, fomentando mais dor a tanta gente.
Como ficam esses coraçõezinhos angelicais com todo este inferno de demônios gerando demônios? Como fica o mundo com tantos raimundos capazes de matar estas "florzinhas" pelo simples anseio, em seus perfis, de atender seus prazeres patológicos de angustias acumuladas em seus passeios infantis? Meu Deus, como fica o Teu projeto de querer ver todo mundo feliz de coração, no mínimo, com a simples convivência com esta última e mais perfeita obra especial da Tua criação? Quando uma mulher não consegue lembrar se já amou o seu pai, o mundo vai sofrer, todo mundo vai pagar, muita vida vai perecer, muita relação vai amargar. Do sorriso de qualquer maria, o sol não consegue amanhecer triste; da felicidade de qualquer uma delas, ninguém, ao redor, consegue, por pior que seja um egoísta, contra outros, ser riste.
Sábado, dia 12 de Março de 2022
UM ABUSADOR DAS FILHAS
O que pensar desse Raimundo, o que pensar dos raimundos espalhados pelo mundo? Lembrando da sua infância, a maria-mãe imaginava mil coisas, mil situações, mas tudo dentro do que sabe ser, ou entender, como feitos de homens para com as filhas em suas "judiações". Lembrando de sua infância, a maria, irmã mais velha, compreendia com lamento, que a mais nova, era mais uma vítimas nas garras que ela mesma esteve em seus sofrimentos. A segunda maria ainda não entendia, ainda não conseguia estar a par do que se livrara, no nascer da recém-chegada; fato é que a atenção incômoda que recebia, chegara ao fim como uma senha desenfreada. Ninguém tinha ideia do que fosse um abusador, nem o próprio Raimundo em seu ardor; mas não faz diferença, não faria nenhuma diferença se soubessem, é tudo assim mesmo, os homens são assim.
As atitudes paternas que incomodaram a maria-mãe, nos tempos da convivência com seu pai, se assemelham bastante com esta que suas filhas sofrem, do jeito que vai; e do jeito que sua mãe reagiu, ela agora imita, fica indiferente, faz de contas que não vê, faz que nunca descobriu, embora a intuição feminina lhe acenda muitos alertas, porém entende que o melhor, pra diminuir as tristezas, é ficar quieta. A nossa melhor compreensão, é não ter opinião, embora os comportamentos sejam suspeitos, os indícios apontam que devemos prestar queixa e exigir investigação por conhecer estes fatos e a ocasião, não temos o direito, nem as habilidades para fazer julgamentos ou qualquer acusação. Todos nesse lugar, e nas casas de todas as marias, são vítimas todos os dias de si mesmos, dos que fizeram suas infâncias e vidas em amargas alvenarias.
Domingo, dia 13 de Março de 2022
MARIA CRESCIA, BONITA MARIA
De recém-nascida, Maria cresceu, engatinhou, caiu muitas vezes para ficar e até caminhar em pé, e, aos poucos, um traço aqui, outro aculá, um jeitinho se delineando, e vai se tornando bela, como toda, em qualquer idade, mulher. Por um lado a vida lhe oferecia os jardins dos encantos femininos, estes que, por si só, abrem caminhos, histórias, oportunidades e desafios não muito franzinos; mas, por outro lado, e até por causa destes jardins emoldurados, grandes dragões vão lhe corroer os sonhos, os dias, a vida e a existência, sem que lhe apareçam os culpados. Quanto mais mulher ela se tornar, maior vai ser o preço a pagar, não há descontos, não há pechinchas; ela vai ter que usar, com o máximo de sua sabedoria, essa que só se encontra nas marias, todas as suas fichas. O quanto ela vencer é o tanto que haveremos ter do quanto o mundo todo irá ganhar por viver e desfrutar de cada maria no que, com luta e garra, estão convictas a conquistar.
A esta altura, Maria chega à idade de sua irmã mais nova, quando ela nasceu. A pesar de tudo e todos, mesmo com uma família sofrida e marcada pelo sofrimento de onde nasceram, a pesar do Raimundo e dos outros que lhe foram ancestrais, ela cresce, mesmo sem muito entender o que estava a viver, sem saber se era bom ou ruim, o que era bom e o que não era, mas estava em sua vida, enfim. Não via, não compreendia, não olhava futuros, bastava o presente que era ruim, até doloroso, mas não podia conceber se havia algo melhor para se ser ou se viver. Nem lembrava que outras famílias existiam, tudo era seu mundo, aquele pai pegajoso demais, aquela mãe que parecia ser visitante em sua vida, as irmãs que pouco via e que nenhuma interação lhe favorecia; era um mundo pequeno, simples, sem graça, reduzido a brincar com uns tocos de pau que dizia ser um pai, uma mãe e um tanto de filhos, família que nunca se abraça.
Segunda feira, dia 14 de Março de 2022
NÃO SABIA O QUE SENTIA PELA MÃE
Maria já estava crescidinha, já estava virando uma mocinha, já passara de seus seis, sete anos, já abria as portas de sua pré-adolescência, já tinha um entendimento melhor sobre tudo e todos em suas essências. Do pai, mesmo com toda aquela atenção "escamosa", irritante e amargosa, já sabia bem o que sentia em sua comoção, uma vontade enorme de estar bem longe de seu beijo e de suas mãos; quanto à mãe, aquela mulher distante e sem nenhum sentido para sua vida, Maria não sabia bem que sentimentos tinha para dedicá-la em sua lida, em sua sobrevivência em seu dia a dia como que sem guarida. Não sabia, mas a mãe que tinha, foi a avó que às suas filhas se repetia, fazendo o mesmo que de sua mãe sofreu e dela cometia. Uma vítima da outra, um corredor de infelicidades onde ninguém tem culpa, mas a culpa usa cada uma para perpetuar as dores que sabe bem aprofundar.
Na adolescência, já sabia bem o que sentia pela mãe, era mais que ódio, rancor, decepção, vergonha, uma vontade imensa de vê-la morta, porém sem saber bem porque de tudo isto, talvez porque, diante de sua dor e medos, ela parece que de nada se importa. Tinha sua vida, tinha sua própria dor, mas era mãe, era sua mãe, por que não mostrava algum interesse em salvá-la? Por que, com tanta indiferença, dos braços daquele Raimundo, não buscava libertá-la. Era a maria-mãe sofrendo na pele as mesmas reações que dispensara à sua própria mãe; ela não sabia, mas via nos olhos daquela menina, e das outras também, levada pelos sentimentos que em cada idade que vivera tão bem, experimentara em relação ao mundo e à sua mãe que lhe era esse alguém.
Terça feira, dia 15 de Março de 2022
SABIA BEM O QUE SENTIA POR TODOS AO REDOR
No espírito rebelde, essencial ao adolescente, sob medida, para romper com um status do que tem sido sua vida, e abrir, alargando espaços para um novo mundo mais seu, as marias se "debrocham" mais cedo e com mais vivacidade, a partir do que a vida lhes concedeu. Em seu caso, nossa Maria está bem ali, nesta situação que a própria vida e suas particulares circunstâncias, não lhe deixam opção. Ela só tem que ser, o que está sendo, ela só pode sobreviver do jeito que vem sobrevivendo; é uma das muitas marias que só tem uma trilha tristonha para caminhar vazia. O que tinha em si, era dor, amargura, sofrer, mesmo que nem soubesse exatamente tudo isto, mesmo que nem compreendesse todo esse seu perecer. Sabe aquela angústia da alma que você não tem nem ideia do que seja, ou do que o leva a sentir? Assim é a nossa Maria, tão bela, tão jovem, tão mulher, mas sem expressão nos olhos, sem expressão definida no que realmente quer. Pobre garota, pobre família, pobre mundo, ninguém fica de fora com as perdas que, contra as marias da vida, nós provocamos como raimundos.
Nos momentos de suas comparações, nos balanços que sempre faz com suas emoções, Maria se olha num espelho de frustrações, se descobre como ninguém, a viver como se não vivesse, como se não fosse gente, como se fosse um espelho também. Que vida tem nos olhos de sua mãe sofrida? Que vida tem nos olhos de seu pai que é uma de suas feridas? Que vida tem naqueles olhos refletidos nesse espelho que transpira essa história perdida? Odeia a si com tudo isso; odeia o mundo sem graça que a faz fazer parte nisso; odeia a mãe e o pai, odeia todo mundo, odeia todos os raimundos. Na adolescência, momento de descobrir os atrativos do sexo oposto, de começar a se embebedar com o olhar, as palavras e as atenções dos garotos, como, pela natureza, é proposto, Maria bela não consegue ter ânimo para esta poesia, embora precoce em muitos sentidos e vivências, é, pra todos, apenas, uma menina em maresia.
Quarta feira, dia 16 de Março de 2022
NÃO SABIA O QUE SENTIA PELOS COLEGAS
Pré-adolescência na escola, cresceu e aprendeu vendo gente; adolescência na escola, cresce aprendendo, da mesma idade, com sua gente. Maria estava bem no meio daquele bolo, fazia parte de todos os rolos, muitas vezes, pelos professores, repreendida pelos erros que cometia; outras vezes, pelos colegas, pelos erros que, com eles, não vivia. Colegas de todas as histórias possíveis, umas eles mesmos contaram, de alguma forma a ela que os ouvia; outras, não contaram, mas eram tão evidentes no que falavam, vestiam e se comportavam, que era como se ela, com eles, convivia. Com tudo isso, uma certeza já era do interesse de nossa Maria; a escola era como um refúgio, um lugar de fuga, uma excelente justificativa para não estar na família, todos os dias. Poderia até não ser o melhor lugar do mundo, ela nem conseguia entender assim, mas em casa tinha seu abusado Raimundo. A vontade que tinha, maior que tudo mais, era de mudar, levar cama, roupas e outras coisas ali para o paraíso naquele lugar.
Mas, o que pensar dos "garotos" de sua sala? Um mundo de raimundos inconvenientes, invasivos e, de várias formas, também abusados; cópias fiéis, naturalmente, de seus pais, outros raimundos enojados. E suas colegas? As garotas que, por algumas, lhe fazem companhia? Não sabia muito o que passava no coração delas, a não ser o falarem de si e do que gostariam; falarem dos garotos, de sexo e do que poderiam; conversas meio vazias que mostravam nada serem, realmente, o que marcava o coração de cada uma. Mas Maria preferia não dar muita atenção a estas conclusões, qualquer coisa era melhor do que em sua casa, qualquer coisa era muito melhor do que aquela convivência e emoções. A escola era seu céu na terra que não lhe engana; o único trabalho que tinha era inventar motivos para encontrar o pessoal à tarde e nos fins de semana, mesmo que fosse na igreja do bairro.
Quinta feira, dia 17 de Março de 2022
SABIA O QUE SENTIA FORA DE CASA
Euforia, uma certa ganância de não estar naquele lugar sempre, na alma, a lhe encarrancar; onde nasceu, cresceu, sofreu, onde ainda sofre, mas já encontra onde se refugiar. Nenhuma saudade de tudo aquilo que lhe tem sido comum, nenhum gosto em fazer parte daquele mundo mesquinho, de jeito algum. Que pena, enquanto alguns dos seus colegas faziam questão de falar de seus pais e mães divertidos, a adolescência rebelde de Maria, a convivência não avierdes de todo dia, paralisava a voz da garota, deixava seu falar bem contido. Era uma vontade de morrer para não estar lá, mas, ao mesmo tempo, uma grande vontade de não morrer, para estar cá, num mundo fora do seu, com gente fora da sua, vivendo sonhos dos outros, com os outros, como se fosse um tapuia.
Todo este emaranhado de coisas que povoam a sua carência existencial, "adolescencial" e pessoal começam a levar Maria para os escondidos, para os banheiros, para os isolamentos, para os auto ferimentos, para uma dor que lhe permitia fugas de uma pavor maior que lhe envolvia em tormentos. Tudo e todos parecem arquitetados a promover traições em sua vida, e, agora, a própria Maria está imbuída no maltrato de si mesma, numa traição invertida. Um corte leve com trejeitos inocentes, foi o primeiro que ninguém viu, mas que deu grande alívio inexplicável e conveniente. Depois vieram cortes mais profundos, sangue mais à vista naquele submundo; uma dor física e emocional, que não desejava morrer, uma dor mental e parental, que lhe dava conforto para viver. Depois dos braços, uma perna, cortes mais profundos para serem dores mais intensas; depois as duas pernas e seus ferimentos, precisava de tudo aquilo para conseguir suportar outras dores no coração, dores que faziam, cada dia, ser mais cruento.
Sexta feira, dia 18 de Março de 2022
TUDO CONTRARIA, TUDO PRA CONTRARIAR
Que espírito ela tem, que vida a vida lhe mantém. Os dias passam, as dores parecem aumentar, os cortes aliviadores parecem dar vida às angústias que se mostram em aumentar. Maria adolescente não sabe mais pra onde ir, não consegue compreender o que fazer para não deixar seu dia a dia lhe ferir. Até a escola está perdendo aquele brilho de outrora, não é mais o lugar "bacana" pra se misturar, mas ainda é muito melhor do que aquele lugar e aquela gente que tem pra morar. Tudo parece se organizar num só objetivo, o de lhe contrariar, ser empecilho para alguma alegria, qualquer que seja, que ela pudesse saborear; assim sendo, que outra reação poderia nascer em seu coração, que não fosse o de fazer de tudo para fazer parte desta "cantação", atuar diretamente, intencionalmente para esta artimanha compartilhar, como numa só emoção, assumir, aos olhos de todos, seu interesse de a tudo e a todos, também contrariar em toda esta confusão.
Muito rapidamente, quase que num piscar de olhos, numa pressa fatal, nossa garota deixou a simpatia de todos e embarcou numa malevolência geral; a adolescente "coitada" que era agradável, na escola, a toda garotada, agora rompia com tudo e com todos para assumir, quase que conscientemente, a postura da vilã que tinha prazer em ser malvada. Nesse ímpeto de extravasar a sua dor nos outros ao seu redor, como vento, Maria foi esquecendo de se refugiar nos cortes que seu corpo parecia pedir pra sofrer naqueles outros momentos. Aos seus olhos, agora, mas, com muita razão, menos lugares e gente ela tinha para se encontrar com seu "rabecão", e, por outro lado, pelo menos, por enquanto, sentia-se aliviada com suas dores compartilhadas, não era ela só que tinha, com muito lamento, uma vida atribulada. Isso diminuía o tamanho do seu mundo, mas lhe dava um pouco mais de saúde para suportar o ambiente familiar do seu pai Raimundo.
Sábado, dia 19 de Março de 2022
VONTADE DE CRESCER PRA SUMIR
Nossa adolescente sobrevive a tudo que amarga seu coração e suas lembranças, sobressai dos espinhos que lhe surgem no caminho, e aqueles que ela mesma, vítima, tem produzido contra suas esperanças. No afã de engrossar o comportamento que vê ferir os olhos e a compreensão de quem lhe seja vizinho, agora embarca na futilidade, chega na promiscuidade e se desagua no resto que sobrava de seu cantinho. Maria, nossa adolescente, como muitas marias por aí, a viver o calvário que muito se sabe e pouco se busca mudar e sentir, está bela como toda moça, mas, com marcas profundas de azedume e amuação, como uma fera ferida em sua própria armação. Homens e mulheres estão, agora, em sua mira de ação, com raiva de raimundos passa a se envolver com todos que se deixem levar por sua sedução; com raiva de marias, da mesma forma, oferece-se por completo a todas que se aventurem na aproximação.
Em pouco tempo, descobre bem que precisa de mais, necessita ser mais, o espaço que ela anseia provocar com suas reações não tem se feito atingido como ela gostaria e tem sido capaz. Vez por outra, um desejo enorme lhe toma o coração, ou morrer apagando tudo que lhe fere e lhe afronta em dor e comoção; ou, por outro lado, crescer e sumir, desaparecer e fugir, ser e mostrar-se grande, com o vigor de sua paixão. Quer ser gente, gente grande para ser dona do seu nariz, sair do mundo que a oprime, lançar-se para uma vida diferente, como lhe condiz. Nem uma coisa nem outra lhe parece possível, enquanto se mostra fraca e covarde para se matar, para tirar-lhe a vida; por outro ainda é nova, ser grande parece distante, o que lhe resta, então é ser atrevida, contra si, mas, principalmente contra tudo, contra todos, que, de alguma forma, de muitos jeitos, tem lhe tirado toda guarida.
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